terça-feira, 3 de abril de 2012

A "BRUXA" DO PEGO


GENTES DA MINHA TERRA
O texto que se segue foi publicado no jornal "O Mirante" sendo da autoria da jornalista Margarida Trincão.
Retrata a historia de Maria Hermínia Lopes Correia, também conhecida por "A Bruxa do Pego", Vidente há muito conhecida no nosso pais bem como além fronteiras.
Por achar que esta reportagem descreve e apresenta com alguma fidelidade a historia de Maria Hermínia Lopes Correia, e fazendo já ela parte da historia do Pego, decidi inclui-la na rubrica (tema) deste blog "GENTES DA MINHA TERRA".
"Os segredos da “bruxa” do Pego"
Maria Arminda, vidente e espírita, atende gente de todos os estratos sociais no seu consultório
foto "o Mirante"
Maria Hermínia Lopes Correia, mais conhecida como bruxa do Pego, é analfabeta mas tem fama de saber ler o futuro dos seus clientes. Pelo seu consultório já passaram advogados, doutores e até padres, assegura. O pagamento das consultas fica ao critério de cada um. A terapia passa por rezas e mezinhas.

Quando as dúvidas assolam as suas vidas, padres, advogados e muitas outras pessoas com mais ou menos instrução não conseguem resistir às consultas de Maria Hermínia Lopes Correia, conhecida em todo o Ribatejo por “bruxa do Pego”. A vidente e espírita tem a missão de lhes ler o passado e antecipar o futuro e não liga ao estatuto social de cada um. “Vêm cá todos. Os doutores e advogados na rua não me conhecem, mas aqui conhecem-me todos”.
Dizem os espanhóis que não acreditam em bruxas, mas que as há, há. Maria Arminda - o nome por que é tratada em família, já que o Maria Hermínia foi erro de registo - é uma mulher do campo de sobrancelhas grossas, olhos pequenos e escuros. A sua fama vem de adivinhar o que se passa com quem a procura ou o que lhe poderá acontecer.
Não tem sofisticação, não veste roupas exuberantes, nem tão pouco recorre a acessórios habitualmente associados à actividade. No seu consultório não há bolas de cristal, cartas ou mesmo vísceras de animais. Basta-lhe olhar para as pessoas, ou para fotografias que lhe levam. Depois faz as suas rezas e desenha num papel arabescos que só ela entende. “Escrevo através dos meus guias e tenho vários, mais estrangeiros do que portugueses”. Maria Arminda não sabe ler nem escrever.
Na sua casa à entrada do Pego, para quem vem de Abrantes, Maria Arminda atende toda a gente. E vêm clientes de todo o país e até do estrangeiro. “A semana passada esteve cá um padre. Doutores e advogados também vêm cá”. A “bruxa” do Pego tem fama de acertar nas curas e no futuro. Fá-lo através dos guias que incorpora e que falam através dela: “Eu não sei ler nem escrever, como é que podia dizer as coisas que digo. Não me importo que me chamem bruxa. Estou aqui para ajudar as pessoas”.
O pagamento das consultas fica com a consciência de cada um. “Não há ninguém que diga com verdade que eu levei dinheiro por uma consulta. Dão aquilo que quiserem. E ajudo toda a gente que precisa”. Diz quem a conhece que é verdade. Maria Arminda acolhe os desprotegidos da sorte: “O que eu gosto mesmo é de dar esmolas”.
Sobre a secretária estão várias imagens de santas e um crucifixo com que se benze antes de iniciar as consultas. Na pequena sala há armários com produtos de ervanária e outras imagens, um grande crucifixo, suposta água benta e numa das estantes um quadro a carvão com a figura de Cristo. “Aquele quadro fala comigo, maneja os olhos. Foi desenhado por um espanhol”, esclarece. Naquele compartimento não há cheiros ou ambientes demasiado místicos. É tudo “quase” natural, onde gente de todos os dias tenta perceber o que se passa consigo. “Uns visitam-me por egoísmo, outros por mera curiosidade, outros porque estão apoquentados”. Os males, diz, vêm muitas vezes dos espíritos que entram nas pessoas.
Maria Arminda é consultada pelos mais diversos motivos: negócios, amores, doenças. Os clientes querem saber e estar preparados para o que há-de vir. “Tenho visões pois claro. O que é que quer saber?”. Pelo sim pelo não o melhor o melhor é mudar o rumo da conversa para assuntos mais genéricos.
As incorporações vêm sem ser anunciadas e a meio da conversa Maria Arminda começa a falar com maior rapidez. Não estrebucha, nem entra em transe. Quando acaba tem um ligeiro arrepio, abre os olhos e sorri. Parece que regressou ao mundo vinda de outra dimensão.
Aconteceu alguma coisa? “Sim, aconteceu”, responde com enorme calma: “Era um homem, que foi muito inteligente na terra e era sábio, embora não tivesse visões porque se calhar também não entendia… Era advogado. Sou analfabeta, não sei ler, mas tenho os meus guias”.
A frontalidade que assume leva-a a criticar a concorrência. “Eu respeito o trabalho de toda a gente, só não respeito a ignorância e a maldade. Sei que há muita gente que se aproveita do dinheiro dos outros. Eu tenho uma ervanária e uma loja dos 300, a minha nora tem um pequeno supermercado e não cobro dinheiro a ninguém”.
Reforçando que não gosta de “desfazer em ninguém”, aceita pronunciar-se acerca de Linda Reis e dos espectáculos televisivos: “A Diana é uma pessoa que não incorpora em qualquer um e o doutor Sousa Martins não ia concentrar-se numa pessoa escandalosa. Ele era um homem sábio não ia incorporar assim”.
Mãe de sete filhos, com vários netos e bisnetos, Maria Arminda, aliás Maria Hermínia, aliás “bruxa do Pego”, casou a primeira vez ao 15 anos. Depois divorciou-se e voltou a viver com um militar de Tancos que “era muito leviano”. Hoje está sozinha e sente-se bem: “Sofro muito, mas posso ajudar os outros”.
(artigo e fotos publicado no jornal "O Mirante")

CURIOSIDADES
No dia 13 de Junho de 1961, Maria Arminda Lopes Correia, de 24 anos de idade, residente no Pego, é condenada a seis meses de prisão, substituída por multa, por prática de Bruxaria. (“IN: Cronologia de Abrantes no século XX" da autoria de Eduardo Campos")

OUTROS ARTIGOS

AS PEGACHAS E AS MONDAS


MAIS UM PEDAÇO DA NOSSA HISTÓRIA.

Na pesquisa de mais "pedaços" da história da Aldeia das Casas Baixas e dos seus habitantes, OS Pegachos(as), encontrei na página da net, que conta a historia da freguesia da Povoa de Santa Iria (Vila Franca de Xira), mais um "miguelho" histórico, que refere que eram as Pegachas "... quem engrossa a fiadas de ru­rais que se perfilam na Borda-d'água, em tarefas menos árduas que as dos longínquos assalariados do campo.."
É um pedaço da história das "Mondas", em que as mulheres e homens do Pego, calcorrearam esse Pais fora, deixando sempre a sua marca por onde passavam. Pois os Pegachos e as Pegachas, alegres por natureza, tudo lhes servia para um bailarico!

O texto que se segue é um excerto de um artigo publicado na página "aragemobrigatoria.com", sobre a historia da Povoa de Santa Iria (Vila Franca de Xira), e onde poderá ler mais sobre esta freguesia.

A MONDA (foto de "ribeirademuge.blogspot.pt")


"CARAMELES E PÉGACHAS"

"Provinham os, Caramelos ou Carmelos do Baixo Mondego e igual­mente encorpavam multidões de camponeses que, em certas épocas, se deslocavam para a região tejana ou sadina, de economia parelha à sua, e de iguais planos pantanosos.
No tempo actual, são as Pegachas, mulheres que vêm do Pego. Na zona abrantina, e alguns Avieiros, quem engrossa a fiadas de ru­rais que se perfilam na Borda-d'água, em tarefas menos árduas que as dos longínquos assalariados do campo.
Dentre muitos outros, aqui se evocam especialmente os desapareci­dos semeador. Mondadeira de arroz, ceifeiro, valador. Deles, desfigurado embora, persiste somente o maioral.
Semear a lanço. Eis um gesto humano, com o papel divino da multi­dão dos pães.
Saias puxadas acima, em talhe calças, e seguras com cinta, ca­nos nos pernas, descalças, manguitos nos braços e grandes chapéus de palha na cabeça, por sobre o lenço  soqueixado, afundavam-se as mulheres no lodaçal do canteiro, arrancando e replantando arroz, mondando-o, ceifando-o, depois, de terem esboroado os cambalhões da terra e moldado. os muros.     
Formigavam-lhes as pernas, gretavam-lhes as mãos, ferroadas umas e outras pelos insectos e aracnídeos raivosos ou pelas ervas mais espinhosas.         
O protocolo da arte de ceifar quaIquer seara  ensina-o Redol no seguinte texto:    
"Agarra uns tantos pés de trigo com a mão esquerda, fá-los pender para ti,  a .foice não muito, agora move a foice com gana sem dar pancada, assim mesmo, e não te importes que o pulso se abra e o braço todo pareça uma linha de dor que te vá arrancar o ombro, porque, entretanto, quase sem tu saberes como, já está uma paveia ao teu lado, e outra e outra - toda a resteva estará juncada de paveias que tu e os teus camaradas ceifaram."
Valadores enroupados nas suas capas e grevas de pano oleado, com a pá afeiçoada a fender a lama e a sustentá-la até ser atirada para cima do vaIado. Os valadores eram sempre homens da terra, porque aquela tarefa não era para qualquer um. Em tempos, existiu na Castanheira uma industria artesanal de pás de vaIar.
Os valadores da Lezíria haviam antigamente usado de privilégios especiais, por terem uma acção fulcral na protecção de pessoas e bens contra as inundações."

(in: http://paragemobrigatoria.com/ficheiros/tejo.htm - A historia da Povoa de Santa Iria)
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