GENTES DA MINHA TERRA
"Os versos que
escrevo
Ninguém os encomendou
Nasceram dentro de
mim
Dizem aquilo que eu
sou!"
(Adélia da
Quinta)
Adélia Ruivo
da Quinta, também conhecida por Ti`Adélia, nasceu em 1933 no Pego, Aldeia das
Casas Baixas, e onde vive actualmente.
Com apenas 9
anos, após o exame da terceira classe, deixou a escola e passou a ocupar-se
numa mercearia da Aldeia, que pertencia ao seu tio.
Sempre gostou
muito de ler e ainda pequena lia as noticias dos jornais, que na época
retratavam muito o que se passada lá longe, na Segunda Guerra Mundial, noticias
estas que interessavam ao seu padrinho, e deslumbrava-se com os romances da
época, "Rosa do Adro" e "Amor de predição.
À Noite, á
lareira ouvia dos mais velhos, quadras e histórias antigas que estimulavam o
convívio entre gerações e preenchiam os serões das longas noites de inverno.
Ainda hoje
com 78 anos de idade é mulher com convicções fortes, grande apreciadora da
leitura e uma enorme fonte de saber, da nossa historia, muito comunicativa,
observa atentamente a sociedade, que não deixa de criticar, parodiando com
humor situações do dia-a-dia.
Ti`Adélia,
escreveu também os seus livros, sendo este, "Segredos da Madrugada",
um livro de poesia, onde ela retrata com muito carinho a sua Aldeia do Pego,
sendo este tema um dos mais vivos da sua obra, não faltando a natureza, o amor,
a sociedade e a saudade.
“Ó Pego, és um miradouro
Com um lindo Roseiral
És das terras mais bonitas
Do meu querido Portugal.”
Segue-se alguns poemas desta obra;
VIVA O PEGO
“Viva a Aldeia do Pego
Ó terra dos meus amores
Tu tens o sabor dum beijo
O cheiro das lindas flores
Tens o divino condão
Dos teus filhos encantar
Levam-te no coração
Depressa querem voltar
Tem frescura a minha terra
Branquinha cheia d`encanto
Tua tradição encerra
Os teus filhos gostam tanto
Tens o cheiro das giestas
Pelas encostas a florir
Tens a alegria das festas
Um povo que sabe rir
Minha terra é uma estrela
A brilhar cá no cabeço
Nunca me canso de vê-la
Esta jóia não tem preço.”
O
POVO PEGACHO
Que povo este pegacho
Que nunca pode parar
Outro igual, eu não acho
Com mais tradições p´ra dar
O pego é uma relíquia
De bonitas tradições
Porque nos costumes fica
Os usos das gerações
A cultura do meu povo
Não se vende, é só p´ra dar
Nem que venha um mundo novo
Ninguém lha pode roubar
Minha terra, minha gente
Povo que sabe cantar
As décimas de antigamente
Deixa os novos pasmar
Os jovens acham-lhe graça
Ao seu modo de falar
Povo que é de pura raça
Tem sempre lições p´ra dar
Meu Pego, meu coração
Esta prenda te quero dar
Tenho estes versos á mão
P´ra o meu povo cantar
Minha terra é bonita
Tem frescura Inglesa
Meu povo veste de chita
Para lhe dar mais beleza
A minha terra é linda
Como era antigamente
E mantém a raça ainda
Na graça da sua gente.”
UMA FLOR PARA TIMOR
(Escrito antes
da independência de Timor)
Tu querias ser passarinho
Ter asas para voar
Hoje nu e pobrezinho
Sem ninho para pousar
Roubaram-te a Pátria
Roubaram-te a Paz
Tu mostras dia a dia
Aquilo de que és capaz
Fazes a Guerra Santa
P´ra liberdade alcançar
O mundo inteiro se espanta
Algozes te querem acorrentar
Tens um povo que resiste
Escondido nas montanhas
A bravura custa-lhes a morte
Em aventuras tamanhas.”
SOU LIVRO POR LER
Sou livro por ler
E carta fechada
Ribeirinha sem água
Que secou de mágoa
Sou brasa apagada
Labirinto de espinhos
E voz sem querer
Escrava sem carinhos
Passarinho sem voar
Livre tenho o pensamento
Também o meu coração
Que dentro de mim palpita
Que abraça a minha Paixão
E tem asas com o vento
De saudade Chora e grita
Nunca mais se quer calar.”
(In: Segredos da
Madrugada, de Adélia Ruivo da Quinta)
Poderá ler estes versos, bem como
outros de enorme riqueza, no livro “Segredos da Madrugada” escrito por Adélia Ruivo
da Quinta, publicado pela “Palha de Abrantes”, o qual poderá ser
encontrado/pesquisado na Biblioteca António Botto, em Abrantes.