GENTES DA MINHA TERRA
O texto que se segue foi publicado no jornal "O Mirante"
sendo da autoria da jornalista Margarida Trincão.
Retrata a
historia de Maria Hermínia Lopes Correia, também conhecida por "A Bruxa do
Pego", Vidente há muito conhecida no nosso pais bem como além fronteiras.
Por achar
que esta reportagem descreve e apresenta com alguma fidelidade a historia de Maria
Hermínia Lopes Correia, e fazendo já ela parte da historia do Pego, decidi
inclui-la na rubrica (tema) deste blog "GENTES DA MINHA TERRA".
"Os segredos da “bruxa” do Pego"
Maria Arminda, vidente e espírita, atende gente de
todos os estratos sociais no seu consultório
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foto "o Mirante" |
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Maria Hermínia Lopes Correia, mais conhecida como
bruxa do Pego, é analfabeta mas tem fama de saber ler o futuro dos seus
clientes. Pelo seu consultório já passaram advogados, doutores e até padres,
assegura. O pagamento das consultas fica ao critério de cada um. A terapia
passa por rezas e mezinhas.
Quando as dúvidas assolam as suas vidas, padres,
advogados e muitas outras pessoas com mais ou menos instrução não conseguem
resistir às consultas de Maria Hermínia Lopes Correia, conhecida em todo o
Ribatejo por “bruxa do Pego”. A vidente e espírita tem a missão de lhes ler o
passado e antecipar o futuro e não liga ao estatuto social de cada um. “Vêm cá
todos. Os doutores e advogados na rua não me conhecem, mas aqui conhecem-me
todos”.
Dizem os espanhóis que não acreditam em bruxas, mas
que as há, há. Maria Arminda - o nome por que é tratada em família, já que o
Maria Hermínia foi erro de registo - é uma mulher do campo de sobrancelhas
grossas, olhos pequenos e escuros. A sua fama vem de adivinhar o que se passa
com quem a procura ou o que lhe poderá acontecer.
Não tem sofisticação, não veste roupas exuberantes,
nem tão pouco recorre a acessórios habitualmente associados à actividade. No
seu consultório não há bolas de cristal, cartas ou mesmo vísceras de animais.
Basta-lhe olhar para as pessoas, ou para fotografias que lhe levam. Depois faz
as suas rezas e desenha num papel arabescos que só ela entende. “Escrevo
através dos meus guias e tenho vários, mais estrangeiros do que portugueses”.
Maria Arminda não sabe ler nem escrever.
Na sua casa à entrada do Pego, para quem vem de
Abrantes, Maria Arminda atende toda a gente. E vêm clientes de todo o país e
até do estrangeiro. “A semana passada esteve cá um padre. Doutores e advogados
também vêm cá”. A “bruxa” do Pego tem fama de acertar nas curas e no futuro. Fá-lo
através dos guias que incorpora e que falam através dela: “Eu não sei ler nem
escrever, como é que podia dizer as coisas que digo. Não me importo que me
chamem bruxa. Estou aqui para ajudar as pessoas”.
O pagamento das consultas fica com a consciência de
cada um. “Não há ninguém que diga com verdade que eu levei dinheiro por uma
consulta. Dão aquilo que quiserem. E ajudo toda a gente que precisa”. Diz quem
a conhece que é verdade. Maria Arminda acolhe os desprotegidos da sorte: “O que
eu gosto mesmo é de dar esmolas”.
Sobre a secretária estão várias imagens de santas e um
crucifixo com que se benze antes de iniciar as consultas. Na pequena sala há
armários com produtos de ervanária e outras imagens, um grande crucifixo,
suposta água benta e numa das estantes um quadro a carvão com a figura de
Cristo. “Aquele quadro fala comigo, maneja os olhos. Foi desenhado por um
espanhol”, esclarece. Naquele compartimento não há cheiros ou ambientes
demasiado místicos. É tudo “quase” natural, onde gente de todos os dias tenta
perceber o que se passa consigo. “Uns visitam-me por egoísmo, outros por mera
curiosidade, outros porque estão apoquentados”. Os males, diz, vêm muitas vezes
dos espíritos que entram nas pessoas.
Maria Arminda é consultada pelos mais diversos motivos:
negócios, amores, doenças. Os clientes querem saber e estar preparados para o
que há-de vir. “Tenho visões pois claro. O que é que quer saber?”. Pelo sim
pelo não o melhor o melhor é mudar o rumo da conversa para assuntos mais
genéricos.
As incorporações vêm sem ser anunciadas e a meio da
conversa Maria Arminda começa a falar com maior rapidez. Não estrebucha, nem
entra em transe. Quando acaba tem um ligeiro arrepio, abre os olhos e sorri.
Parece que regressou ao mundo vinda de outra dimensão.
Aconteceu alguma coisa? “Sim, aconteceu”, responde com
enorme calma: “Era um homem, que foi muito inteligente na terra e era sábio,
embora não tivesse visões porque se calhar também não entendia… Era advogado.
Sou analfabeta, não sei ler, mas tenho os meus guias”.
A frontalidade que assume leva-a a criticar a
concorrência. “Eu respeito o trabalho de toda a gente, só não respeito a
ignorância e a maldade. Sei que há muita gente que se aproveita do dinheiro dos
outros. Eu tenho uma ervanária e uma loja dos 300, a minha nora tem um pequeno
supermercado e não cobro dinheiro a ninguém”.
Reforçando que não gosta de “desfazer em ninguém”,
aceita pronunciar-se acerca de Linda Reis e dos espectáculos televisivos: “A
Diana é uma pessoa que não incorpora em qualquer um e o doutor Sousa Martins
não ia concentrar-se numa pessoa escandalosa. Ele era um homem sábio não ia
incorporar assim”.
Mãe de sete filhos, com vários netos e bisnetos, Maria
Arminda, aliás Maria Hermínia, aliás “bruxa do Pego”, casou a primeira vez ao
15 anos. Depois divorciou-se e voltou a viver com um militar de Tancos que “era
muito leviano”. Hoje está sozinha e sente-se bem: “Sofro muito, mas posso
ajudar os outros”.
(artigo e fotos publicado no jornal "O Mirante")
CURIOSIDADES
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