sábado, 11 de junho de 2011

Pego a “Aldeia das Casas Baixas”

“ENCONTROS COM A MINHA TERRA”

Pego, a Aldeia das Casas Baixas, é uma terra já com muita história sendo uma das mais antigas e importantes terras do concelho de Abrantes já havendo referencia a “…uma povoação com o nome de Pego..., nos surge supra referida num documento de 1332, portanto no século XIV.”, ou seja a aldeia do Pego como povoação já existe à 700 anos.

A história da “Aldeia das Casas Baixas” já é bastante longa, no entanto também bastante dispersa. “ENCONTROS COM A MINHA TERRA” é a busca desses pedaços de história e conjugá-los num só lugar.

"O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã."  (Autor - Leonardo da Vinci)

Coloco aqui alguns dos artigos já pesquisados e publicados neste Blog, sobre o Pego “Aldeia das Casas Baixas”:

A HISTORIA

 

O terramoto de 1755 na Aldeia do Pego

Memorias Paroquiais – “Censos” da Aldeia do Pego datado de 1758

As Festas do Pego e a sua História

As Festas do Pego e a sua História II

As Festas do Pego e a sua História III

As Festas do Pego e a sua História IV

“As Carvoarias do Pego” II - O trabalho da Mulher Pegacha.

A Historia da Paróquia do Pego

O Pego do Passado

A pronuncia da palavra “Pego”


AS LENDAS

Lendas e Histórias da Aldeia do Pego

Lendas e Histórias da Aldeia do Pego (cont.)


A ALDEIA

ARTESANATO ” PEGACHO” – TRABALHOS EM MADEIRA E CORTIÇA

Artesanato da Aldeia do Pego

Exposição de Artesanato na Aldeia do Pego

Petiscar – A tradição do Pego

Aldeia do Pego em Fotografia

A Aldeia do Pego em Fotografia II

"O orgulho Pegacho"

Características únicas da Aldeia do Pego - A Alma Pegacha

"GATEIRA" Documentário da carvoaria na freguesia do Pego - Abrantes.

A Biblioteca António Botto no Pego

Rancho Folclórico do Pego - Embaixador da cultura da Aldeia do Pego


Havendo muito mais para dizer, contar e relembrar sobre esta grande terra, fica para já este pequeno registo!
"Já que no Pego tivémos que nascer, somos Pegachos até morrer!"

quarta-feira, 8 de junho de 2011

“As Carvoarias do Pego” II - O trabalho da Mulher Pegacha.

Falar das carvoarias e dos carvoeiros sem falar das mulheres que também executavam estes trabalhos árduos, era como deixar um trabalho incompleto e imperfeito.
A mulher Pegacha, grande suporte do homem neste duro trabalho das carvoarias, que por este pais fora ganharam fama de bons trabalhadores e artífices na arte de produção do carvão vegetal, desde cedo, assumiu um papel muito importante, pois alem de partilharem a dureza das tarefas e havia mesmo as que só eram feitas pelas mulheres.
O texto que se segue, é da autoria de ISILDA JANA, professora de história, e também ela uma mulher Pegacha, no qual tenta descrever os pormenores do trabalho árduo das mulheres nas carvoarias.

"A MULHER NAS CARVOARIAS" 
 
""As mulheres sempre estiveram ao lado dos homens nas carvoarias.
Sempre partilharam a dureza das tarefas e havia mesmo as que só eram feitas pelas mulheres.
Todas as tarefas que, de algum modo se podem associar ao trabalho doméstico, eram feitas pelas mulheres: ir buscar água, fazer comida, lavar e tratar da roupa, cuidar dos filhos, ir buscar o “avio” a uma loja da localidade mais próxima. Tudo isto era, normalmente, trabalho da mulher.
Mas a par disto havia o trabalho propriamente dito.
Vejamos o que poderia ser um dia nas carvoarias.
De manhã, muito antes do nascer do sol, o “manajeiro” dava o sinal de acordar. A malta acordava e depois de se vestir e enrolar o fato da cama, partia para o local de trabalho. Ás vezes bem longe.
Os filhos iam com os pais, ou quando já eram crescidos ficavam a dormir e depois iam ao forno.
As mulheres levavam á cabeça o cesto, aviado na véspera, com tudo aquilo que era necessário para fazer a comida do dia.
Chegados ao local de trabalho, era hora de tomar o “desinjum” ( o dejejum), um bocado de pão com conduto ( queijo, toucinho, morcela ), um golo de vinho, ou pouco de leite em pó com cacau. Esta era a primeira refeição do dia.
Entretanto a mulher deixava a posta de bacalhau que iria fritar para se comer com as migas do almoço.
Depois pegava-se ao trabalho. Homens e mulheres ficavam lado a lado a enfornar.
E quando a enforna estava quase pronta, era necessário ir buscar “tapum”, ou tapume (junco, bracejo, fetos ou mato) com que se cobria a lenha antes de” terrar" o forno. Ceifar e trazer à cabeça para o forno grandes “feixos” com que se cobria a lenha era trabalho das mulheres.
Mas antes de ir ao tapume, as mulheres punham ao lume a panela de barro com as batatas para as migas. Eram cozidas com a pele.
Algum tempo depois voltavam as mulheres com grandes feixes á cabeça. Atiravam-nos para o chão e lá começavam a tapar o forno. Mas já eram 11horas e estava na hora de preparar o almoço. As mulheres descasavam as batatas cozidas e fritavam o toucinho em torresmos e no unto faziam as migas. Quando tudo estava pronto, chamavam os homens e as crianças e todos comiam á sombra dos sobreiros.
Depois do almoço, as mulheres lavavam a loiça, deixavam já a panela ao lume com feijão ou grão para o jantar. Logo de seguida pegava-se ao trabalho.
Entretanto, tinha-se acabado a água e lá partiam uma ou duas de cântaro ou barril à cabeça. A fonte era muitas vezes lá bem longe. Uma bica que corria bem fresquinha apesar da secura e do calor tórrido do Verão. Ir e vir podia bem levar meia hora de caminho, mas valia a pena porque, quando chegavam, todos pediam água fresca. O cântaro era depois colocado á sombra e sobre o mesmo era colocado um saco molhado que mantinha a água fresca.
Entretanto a malta, o conjunto das pessoas, cobriu já o forno com o tapume e começou a terrar.
Homens e mulheres cavavam e colocavam terra, tapando a lenha até á fiada, mais ou menos a meio do forno. Depois punha-se a fiada, uma faixa de mato a toda a volta do forno que ajudava a segurara a terra. Dai para cima era mais trabalho dos homens. Era preciso força para levar as pás bem cheias de terra até lá cima. Era um trabalho muito duro.
As mulheres iam cavando á volta do forno, para arranjar terra que os homens com as pás atiravam para cima do forno.
Entretanto as mulheres já juntaram a mistura (arroz, massa, couve…) no feijão ou grão que estava ao lume desde o almoço. Por volta das três da tarde era o jantar. De seguida a sesta.
Eram duas horas, entre as três e as cinco da tarde. A maior força do calor era passada á sombra de um sobreiro ou azinheira. Uns dormiam, outros só descansavam. Por vezes as mulheres aproveitavam para dar uns pontos na roupa ou para fazer algum bordado.
Era tempo de recuperar forças que terminava com o grito:
- Água Fresca! Vindo do manajeiro.
E logo se retomava o trabalho.
Os homens terminavam de terrar o forno e deitavam-lhe fogo e deitavam-lhe fogo. As mulheres começavam a escolher preparar a lenha para enfornar o próximo. É um trabalho que as mulheres não gostavam muito de fazer pois muitas vezes, debaixo da lenha, escondem-se as cobras.
E começa tudo de novo. Até que ao sol-posto homens e mulheres largam o trabalho.
Elas voltam com os cestos á cabeça. Logo que chegam á malhada acende-se o lume e prepara-se a ceia. Arroz ou massa com bacalhau… por vezes misturam batatas, mas é quase sempre o mesmo. Por vezes coelho, uma perdiz, que a caça naquele tempo era farta.
Depois de cear, os homens sentados á volta do lume, contavam histórias, deitavam contas á vida… As mulheres continuavam com a labuta, aviavam o cesto para o dia seguinte, tratavam dos filhos, por vezes lavavam alguma roupa.
E era assim, dia após dia, até ao Domingo.
Ao domingo trabalhavam até ao meio dia. Depois iam para a malhada.
Da tarde os homens descansavam ou iam até á localidade mais próxima beber um copo. Por vezes iam nas bicicletas e traziam o avio. As mulheres continuavam a labuta.
Lavavam-se e lavavam os filhos. E depois, grande parte da tarde era passada a lavar roupa da semana no ribeiro ou barragem mais próxima. Esta tarefa sabia a descanso apesar de não o ser. O sair da rotina, o contacto coma água, o estarem umas com as outras, sem os homens por perto… lavava-se a roupa e as magoas.
Ao fim do dia juntavam-se todos. Ceavam. Os homens contavam as notícias, as crianças comiam regaladas os amendoins ou os rebuçados de meio tostão trazidos pelos pais e ouvia-se a rádio.
Por fim, iam todos para a cama com a certeza de que no dia seguinte o trabalho duro os esperava.
Nas carvoarias a mulher trabalhava duro, tal como o homem.
Em todas as fases do trabalho, desde o corte e tirara cortiça, até ao fazer do carvão todas as tarefas eram partilhadas.
A mulher era o grande apoio do homem, ajudava-o no trabalho e prestava-lhe os cuidados domésticos, cozinhava, tratava da roupa… quando a mulher não acompanhava o homem, este ficava um pouco perdido, dizia-se que “fulano de tal pregou o botão com um arame”. Se andava um homem sozinho eram, normalmente, as mulheres dos outros que lhe tratavam da Panela.
Quando havia situações em que eram só malta de homens, levavam uma cozinheira que tratava das panelas de todos e alguns pagavam-lhe para lhes lavar a roupa.
Em resume, o trabalho sa carvoaria era muito um trabalho de par, em que havia uma grande interdependência entre o trabalho do homem e da mulher. Exemplificando: o homem cortava a lenha, a mulher acarretava-a para o local onde se tirava a cortiça; o homem fazia ” lêves”, a mulher carregava-as até ao forno; a mulher cavava a terra e o homem terrava; o homem fazia “asseiros” e a mulher escolhia o carvão… e eram necessários os dois para ensacar o carvão depois de feito.""

Texto de ISILDA JANA
Professora de história e ex-vereadora da cultura e educação da Câmara municipal de Abrantes

Fotos: Revista "Zahara"

Nota: Este texto está publicado no nº8 da revista "Zahara", publicada pelo Centro de Estudos de História local - Palha de Abrantes, a qual poderá ser consultada na biblioteca do Pego.

sábado, 4 de junho de 2011

58º Aniversário do Rancho Folclorico da Casa do Povo do Pego


DECORRERÁ HOJE O 58º ANIVERSÁRIO DO RANCHO FOLCLÓRICO DA CASA DO POVO DO PEGO.

Com 58 anos de vida sem interrupções, é o rancho mais antigo em actividade do Ribatejo e um dos mais antigos do país.
Não perca a festa do seu aniversário… Aqui na “Aldeia das Casas Baixas”!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

“As Carvoarias do Pego”

"O CARVOEIRO"
Joaquim de Sousa Gil (1948-1989), mais conhecido por “Joaquim Parreira”, natural da Freguesia do Pego, ilustre ensaiador do Rancho Folclórico da Casa do povo do Pego e animador de várias festas desta Aldeia (o Carnaval é um exemplo que me ficou na memória), deixou-nos um relato fidedigno da vida dura dos carvoeiros Pegachos, o qual se transcreve na íntegra:


“”A profissão mais desenvolvida da nossa terra foi sem duvida a de carvoeiro, deu-se com mais incidência no princípio do século XX, embora ainda hoje muita gente trabalhe nas carvoarias.
Trabalhos muito rudes, principiavam no principio do ano, e, duravam na maioria das vezes até Dezembro.
Aonde houvesse especialmente sobreiros e azinheiras, e também outras árvores, lá se encontravam grupos de pegachos, “AS MALTAS”.
No fim do século passado e até no actual, era vê-los dias a pé, por esse Alentejo fora, já que no Alentejo que havia mais trabalho. Chegados ao local, escolhia-se o sítio próprio, construíam-se as barracas, formando a malhada.
Este local era a sua terra, o seu lar durante todo o ano. Por isso as suas barracas eram bem-feitas, fortes paus, bem tapados com ramos e depois com junco ou bracejo, defendendo-se assim da chuva, do frio, do calor e também da bicharada. Lá dentro construíam a cama, sendo o colchão de carqueja e junco ou bracejo, ai descansavam nas poucas horas de lazer e guardavam os seus haveres.
Era grande a área de trabalho, por isso muitas vezes tinham de sair de noite percorrendo horas de alcofa ás costas com os mantimentos para esse dia, levando também pesadas ferramentas. Chegados ao local, o que mandava, o “Manajeiro”, indicava o sítio aonde naquele dia seria a cozinha; local aonde se cozinhava e comia o almoço às 10 horas e o jantar ás 14 horas.
Deixada a panela de barro com umas batatas para as migas, ou feijão-frade, lá se metia um bocado de pão com “CONDUTO” na boca, e principava-se o trabalho ao nascer do sol. Os mais novos, chamados de moços iam á água. Eram horas de barril às costas, outro cozinhava e preparava um grande braseiro, para os homens assarem um pedaço de bacalhau ou toucinho, e fazerem os seus saborosos pares de migas. Os mais afoitos mandavam-nas bem altas por cima até de um pequeno sobreiro indo apanha-las do outro lado, ás vezes resultava terem de as comer do chão, já que na sertã não ficou nada. Ao jantar comiam quase sempre feijão com massa ou arroz, embora houvesse outras ementas.
Ali perto a azafama era grande, homens limpavam arvores cortando grandes pernadas, outros cortavam no chão essas pernadas em pedaços, essa lenha era transportada ás costas para o montes, lá se tiravam a cortiça, desta vez cortiça á “falca”, Com uma só mão os carvoeiros lançavam a machada de alto a baixo, cortando grandes pedaços de cortiça e casca juntos, com a outra seguravam o pau na vertical, depois faziam grandes montes, chamados fornos. Eram tapados com mato e grandes camadas de terra, a seguir coziam o carvão.
Lá para Abril ou Maio o trabalho era pouco, despediam alguns até para o S. João, que era quando começava a derruba dos sobreiros. Também os que ficavam geralmente vinham passar o S. João ao Pego, já que era dos dias mais festejados nessa altura, e há quase meio ano não viam a família. Outros ficavam na malhada, só vendo a sua terra no fim da época. Finda essa quadra, e, novamente todos começavam a derruba das arvores, neste caso os sobreiros menos “sadios” estavam marcados com uma faixa branca, eram estes a ser derrubados. Este trabalho era feito nesta altura, porque agora mais fácil se extraia a cortiça e a casca, separados a cortiça mansa chamada mansa ou virgem, desta vez tanto a cortiça como a casca eram tiradas á enxó.
Grandes árvores arrancadas, outras vezes cortadas por quatro ou mais homens ao mesmo tempo com grandes machados, um homem em cada lado, passavam horas a puxar o serrote para serrar um só toro. Os madeiros maiores eram rebentados com pólvora, depois cunha s e marrão, os bocados maiores eram puxados para o forno de pau e corda, os mais pequenos às costas. Quem chegava primeiro ao sobreiro geralmente levava o pau maior; muitas vezes não faltavam os maus jeitos, o forno era longe e o terreno mau, o corpo não aguentava e tinham de atirar o madeiro para o chão antes de chegar ao destino.
Tirada a cortiça e casca, enfornava-se a lenha formando o forno.
Começa atarefa mais fácil e de mais técnica, “não falei há pouco dela, porque nas derrubas era mais difícil descrever toda a preparação do carvão”.
Grandes fornos eram terrados por diversos homens metade de cada lado sempre a despique, para ver quem terrava o seu lado primeiro e mandar uma(s) pazada(s) para cima dos outros! A TERRAR, serviço bem duro, havias as “AGUADAS”, descanso de 15 minutes cada. Uma “Aguada” antes do almoço, duas do almoço ao jantar e três do jantar á noite. Terrados alguns fornos, o cozedor, homem de grande experiência, acendia-os por esses vales fora, e tratava deles para que toda a lenha se cozesse, para isso tinha de ir de dia e de noite vigiá-los com frequência, abrindo ou tapando buracos chamados “GATÊRAS”, estas abriam-se ou tapavam-se conforme as necessidades de entrada de ar; era aqui a sua técnica. Quando o cozedor (alagava) o forno, era sinal que o sinal que estava cozido. Então os carvoeiros começavam por empoá-los, seguidamente punham o carvão por terra, separando algumas pontas de lenha que não cozera convenientemente, e tapando novamente o carvão para ser tirado no dia seguinte. Das pontas de lenha que não cozeram, faziam as “CUVATAS”, eram os fornos pequeninos.
Tirar o Carvão era tarefa bastante árdua; homens de grades, pás, enxadas, num braseiro de tamancos nos pés, os torrões em brasa ás vezes faziam-lhe a partida, e lá se dava mais um grito ou rogava-se uma praga. O carvão era posto em filas, “os asseiros”, para arrefecer e escolher os torrões e pedras, mais tarde era ensacado.
Dias enormes de verão trabalhando de sol a sol. Valia-lhes a “Sesta”, como compensação; ao jantar além de uma hora e meia para descanso. Começam em principio de Maio indo até fins de Setembro, era o “MANAJEIRO” que no fim da sesta gritava; “ÁGUA FRESCA”; para acordar o pessoal (os que dormiam), e lá estava o barril do precioso liquido, que o moço tinha acabado de trazes às costas, da fonte que muitas vezes ficava no fundo do outro vale.
A sesta era também aproveitada para fazer os cabos para as ferramentas, os paus para os tamancos, que os faziam com capricho, o cocho para beber água, entre outras coisas também se fazia “UMA CADELA”, para se sentarem á noite na malhada de volta do lume que serviu para cozer a ceia, ai contavam os seus contos e anedotas, uma vez que as novidades eram poucas e as cartas da família, geralmente endereçadas ao cuidado do patrão, sempre demoravam a chegar. Aqui era o Manel que as lia e escrevia, pois só ele sabia ler um pouco e escrever.
Aos domingos, e depois de se trabalhar metade do dia, o resto do tempo era para lavar e remendar a roupa, aguçar ferramentas, tapar um buraco da barraca, já que a água da chuva tinha estragado o resto do avio, comprado no domingo anterior na (venda), do Monte ou aldeia mais próxima, ou vendido pelo homem que vinha na carroça aos domingos á tarde. Também era ao domingo á tarde, vestindo roupa lavada, que se ia beber uns copitos, ás vezes horas para se chegar á primeira povoação; sempre se lá tinha gente amiga, conhecida de anos anteriores. Os mais novos se possível deslocavam-se a outro Monte; é que ali andava um grupo de moças que trabalhavam em “MONDAS” e costumavam fazer bailes. Alguns mais afoitos chegavam a namoriscar algumas, havendo os que chegavam a casar. Ainda hoje há quem se lembre de quadras feitas pelos poetas da malhada; eis uma delas:

Tenho fama de ser casado,
Pai de uma menina,
Para quebrar olhos ao mundo,
 Caso contigo ó Cidalina.

Testemunhamos aqui um pouco sobre a vida dos carvoeiros, seria pois necessário uma grande colecção de livros para descrever tudo sobre os mesmos. Os escritores seriam aqueles que sofrem e trabalham por este pais fora e por quem temos o maior respeito.
Ainda hoje, quando conversamos com pessoas bem longe da nossa terra, Pego, orgulhamo-nos pela maneira como eles contam.
-Conhece o ti Manel Pegacho? Há mais de trinta anos que não o vejo!
-Gostava de o ver, era danado para trabalhar, aos Domingos bebia uns copitos, mas era muito bom homem, sempre pronto para tudo!
Não falamos da mulher do carvoeiro, porque esta “A CARVOEIRA”, trabalhando sempre ao lado do homem, ganhando menos que ele por ser mulher, sofrendo ainda em alguns casos maus tratos do marido, e, por outrs factores merece um trabalho mais cuidado.
Sem querer, debruçamo-nos mais sobre os carvoeiros no Alentejo; ai haviam as maiores migrações, mas por exemplo em Trás-os-montes, tanto frio, tanta neve, tantas serras, como seria?””
Pego, 1985
Joaquim de Sousa Gil



Em memória de um homem que muito fez pela sua terra... "Joaquim Parreira"

Agradecimento: Desde já, não poderia deixar de agradecer, à Cristina Sousa, filha de Joaquim Parreira, pelo apoio e autorização na elaboração deste artigo com a publicação do respectivo texto.

Nota: Este texto está publicado no nº8 da revista "Zahara", publicada pelo Centro de Estudos de História local - Palha de Abrantes, a qual poderá ser consultada na biblioteca do Pego.

domingo, 22 de maio de 2011

ARTESANATO ” PEGACHO” – TRABALHOS EM MADEIRA E CORTIÇA

No Pego - Aldeia das Casas Baixas sempre houve quem se destacasse mais nas artes manuais, realizando trabalhos de artesanato de uma riqueza e beleza fora do comum.
Noutros tempos passados, onde a pobreza era “estado do povo”estes artesões eram solicitados para produzir os mais diversos artigos para que o povo se “desenrascasse” nas suas lides diárias. Estes produziam desde calçado, vestuário, ferramentas de trabalho, entre muitos outros.

Hoje em dia, estes artesãos, trabalham apenas como passatempo ou para manter um pequeno negócio de venda de artesanato.

O artesão que hoje vos falo, é Gabriel Jacinto Serrano, de 75 anos de idade, Natural da Freguesia do Pego e morador no “fund´aldeia”, que produz peças de artesanato apenas para manter um passatempo que o faz recordar outros tempos. Não faz negócio das suas peças, guardando para si os trabalhos que vai produzindo, apenas cedendo ou construindo algumas a pedido.
Os seus trabalhos são efectuados sobretudo com madeira e cortiça, alguns em miniatura, representado objectos e ferramentas que em tempo eram bastante utilizados pelos “pegachos”. Outros objectos são fruto da sua imaginação com são exemplo os chapéus mexicanos!



 A "oficina " do artesão


 Dois candeeiros de teto!


 Estas três fotos representarão um moinho de vento, que que está em fase de conclusão, e que após finalizado e a funcionar fará "dançar o Rancho folclórico" ali representado.

 Uma pequena balança, elaborada toda em madeira e que executa a sua função na perfeição.
 Para os adeptos do Benfica, um boné em cortiça.
 Cesta em madeira.


 Cadeiras em miniatura, com "verga" e respectiva mesa.
 Um "cocho" para beber água, muito tradicional para estes lados.
 Uma "soca" em madeira.


 As tradicionais "tropeças em cortiça", que eram muito utilizadas por estes lados.
 Miniaturas dos talheres feitos e madeiras bem como o prato!
 A tradicional cesta, onde os trabalhadores rurais e os carvoeiros, transportavam o seu "farnel".



Vários instrumentos musicais em fase de construção!


 Dois chapéus mexicanos imaginados pelo artesão, construídos em cortiça.

 Dois tipos de chapéus construídos em cortiça!

 O artesão Gabriel Jacinto Serrano de 75 anos de idade.

Em conversa com o artesão sobre os seus trabalhos, nota-se na sua voz o orgulho pelos seus trabalhos, bem como a intenção de continuar a construir mais alguns, “até que as forças e a saúde o permitam”! É na realidade uma forma de se manter ocupado no seu dia-a-dia, afastando-se deste modo da rotina diária da “velhice”!
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